Na coluna semanal “Confissões de um Acelerador”, Frederico Lacerda, co-fundador da 21212 e responsável pela seleção e operação do programa de aceleração da 21212, compartilha lições aprendidas durante o seu dia a dia junto às startups.

Quando um empreendedor passa pelo programa de aceleração da 21212, ele é apresentado a dezenas de mentores e potenciais advisors. Se antes o desafio era conseguir obter tais contatos, agora passa a ser difícil gerenciar o relacionamento com os mesmos.

A mentoria é, por definição, uma atividade voluntária. E os mentores são, em geral, profissionais ou empreendedores com tempo bastante limitado. Por isso, precisamos estimular continuamente os nossos mentores para mantê-los engajados e em dia com as novidades da nossa empresa.

Trabalho com aceleração de startups envolvendo atividades de mentoria há 4 anos, e já tive a oportunidade de estabelecer relacionamentos entre dezenas de mentores e centenas de empreendedores. Pode parecer estranho, mas aprendi que um dos maiores segredos dos empreendedores que conseguem manter um bom relacionamento com seus mentores no longo prazo é manter um ritmo elevado (e organizado) de demandas junto a eles.

Conversei recentemente com Ruben Sanchez – que reúne experiências como empreendedor, executivo e investidor -, um dos mentores mais ativos da 21212. Ele esteve (e ainda está) próximo de muitas das nossas startups, incluindo a Zeropaper, cuja jornada empreendedora teve um fim feliz com a venda total da empresa para a americana Intuit, em janeiro deste ano. Ruben me deu a sua opinião em relação aos empreendedores com os quais se relacionou na 21212: “Os melhores empreendedores que apoiei são aqueles que mais solicitaram a minha ajuda, mas também que mais me ouviram, deram follow-ups e demonstraram satisfação com a minha mentoria”.

Nesta semana estive no escritório da Intuit Brasil e, durante uma conversa com André Macedo, co-fundador da Zeropaper e agora country manager da Intuit no Brasil, fiz a mesma pergunta sobre o seu relacionamento com mentores. A sua resposta não foi diferente: “Acho que fui o empreendedor que mais aproveitou os mentores da 21212. Às vezes eu ligava para mentores no final de semana ou os chamava no Skype de madrugada. Mas sempre tomei cuidado e soube ouvir, selecionar o que parecia ser bom, validar o que tinha dúvida e incorporar o que valia a pena”.

A maior parte das startups que conheço tem dificuldade em manter o relacionamento com seus mentores. Os 3 maiores motivos são:

  • Preocupação em acabar exagerando na quantidade de solicitações com mentores (que já são muito ocupados);
  • Achar que se perde muito tempo atualizando e conversando com mentores; e
  • Ter a impressão de que alguns dos mentores parecem não se engajar com a mentoria.

Por isso, reúno abaixo as 5 melhores práticas que observei em startups que foram bem sucedidas na manutenção do relacionamento com seus mentores ao longo do tempo. Todas elas são simples a ponto de você poder colocá-las em prática ainda hoje!

  • Atualize seus mentores com relatórios semanais curtos e diretos

Esta é uma boa dica para atualizar mentores e outras pessoas interessadas em acompanhar a evolução da empresa. Ao enviar relatórios semanais, você permite que seus mentores saibam o que está acontecendo sem precisar dedicar tanto tempo conversando com um a um. O relatório deve ser simples: um e-mail com bullet points apresentando as novidades, algumas métricas importantes, os desafios e metas ainda abertos, e os pedidos de ajuda.

Assim, você mantém os seus mentores estimulados e em dia com os desafios que está enfrentando. Caso algum mentor tenha uma sugestão sobre um desafio apresentado, ou caso possa te apresentar à empresa que você quer conhecer, ele responderá ao e-mail. Caso não tenha nada a contribuir nesta semana, pelo menos saberá como estão indo as coisas e não esquecerá de vocês caso encontre alguma oportunidade.

  • Estabeleça a frequência ideal de reuniões com cada mentor

Mentores não são iguais entre si. O lado bom disso é que cada mentoria pode trazer uma experiência completamente diferente. O lado ruim é que você precisará aprender a lidar com cada mentor. Isso envolve definir a frequência ideal de reuniões, já que esta é a atividade que mais representa investimento de tempo na cabeça de um mentor.

Alguns mentores vão sugerir reuniões semanais, o que pode acabar sendo demais para você. Outros já deixarão claro desde o início que estão muito ocupados para marcar reunião. O importante é que você consiga estabelecer uma frequência com todos eles, sem exagerar (para cima ou para baixo). Alguns mentores poderão agregar valor em pequenos encontros noturnos com frequência semanal, enquanto outros serão melhor aproveitados em um encontro mais intenso com 4 horas de duração a cada 2 meses. Sente-se com o seu mentor e defina junto a ele o que pode funcionar melhor.

  • Otimize o tempo que você utiliza dos seus mentores

Ainda na linha da dica #2, é importante que todas as interações com seus mentores sejam aproveitadas ao máximo. Por isso, recomendo as boas práticas abaixo:

  • Defina um assunto específico para cada reunião e deixe claro o que você quer ter ao fim do encontro;
  • Envie um e-mail com alguns dias de antecedência com um resumo do tema a ser discutido, incluindo qualquer material que precise ser analisado com antecedência (ex.: planilhas financeiras, telas do produto, métricas…);
  • NUNCA se atrase para o início da reunião;
  • Sempre modere a reunião para que ela não fuja do objetivo (e acabe virando um brainstorming sem fim) e para que termine no horário combinado. Muitos mentores podem se empolgar e passar do horário agendado, mas depois muitos se arrependerão e passarão a avaliar o quanto realmente podem se dedicar à mentoria.
  • Sempre faça follow-up após um conselho ou uma porta aberta

Isso pode soar estranho, mas a maioria dos empreendedores não dá satisfação em relação aos resultados de conselhos dados pelos mentores ou portas abertas no mercado. Isso é tão absurdo quanto comprar um produto e não recebê-lo em casa. Não é por ser voluntário que o mentor não espera nada em troca. Ele não espera dinheiro ou participação, mas deseja saber se os seus conselhos e contatos geraram valor para os empreendedores.

Nunca se esqueça, portanto, de fazer follow-up após as reuniões de mentoria. Os mentores geralmente dão 3 tipos de conselhos: os que servem para alguma coisa, os que precisam ser validados e os que não servem para nada. Você deve anotar todos eles e, após a reunião, decidir junto ao seu time como endereçá-los. Agradeça sempre e, após algum tempo, ou na próxima reunião, não se esqueça de dizer o que você fez com cada conselho recebido, justificando porque decidiu não seguir os que eventualmente tenham sido invalidados (e os que não serviram para nada :).

  • Caso tenha alguma boa notícia, garanta que seus mentores a ouvirão de você

Por fim, nunca deixe de compartilhar as boas notícias com seus mentores em primeira mão e reconhecer o papel deles nessa jornada. Esta é a maior recompensa que muitos deles esperarão do investimento de tempo que estão fazendo na sua empresa. Então não deixe que o seu relacionamento com os mentores se resuma a pedidos de ajuda; garanta que eles façam parte também dos momentos de celebração!