Como identificar problemas que precisam ser resolvidos – e que se transformam em grandes negócios

Parte I de III da série: Empreendedores resolvem grandes problemas!

É normal atribuirmos à evolução tecnológica o mérito de um novo produto ou serviço de grande sucesso. Mas é preciso analisar bem mais a fundo pra entendermos realmente que esses sucessos só ocorrem de fato quando um problema real está sendo bem resolvido.

O caso do mercado de máquinas fotográficas é um bom exemplo. A evolução tecnológica teve, sem dúvida, enorme impacto neste mercado. Dá pra imaginar que em pouco tempo as antigas máquinas fotográficas com filmes que precisam ser revelados vão virar peça de museu.

As máquinas digitais definitivamente mudaram o mercado. E em tempos de altíssima conectividade, a facilidade da foto digital caiu como uma luva para as pessoas que compartilham sua vida com o mundo.

Mas existir o filme e precisar da revelação em si não eram um grande problema para as pessoas. Ninguém deixava de registrar um momento único porque depois seria um enorme transtorno revelar as fotos (o que já não levava mais do que 30 minutos em uma lojinha da esquina).

Isto é, foram outras soluções que resolveram melhor os problemas que as pessoas tinham – naturalmente se fazendo valer da revolução digital que as novas máquinas acabavam de introduzir.

Basta analisar qual era a empresa que mais vendia câmeras digitais em 2005. Kodak? Sony? Canon? Nikon? Não. Quem mais vendeu câmera fotográfica em 2005 foi a Nokia! Isso mesmo, a fabricante finlandesa de celulares! Isso porque, desde 2003, já se vendia no mundo mais câmeras digitais integradas em telefones celulares do que câmeras independentes.

Um grande problema que as pessoas tinham não era o trabalho de revelar o filme depois de registrado aquele momento inesquecível, mas justamente o de estar com o aparelho fotográfico no momento exato em que se queria registrar o tal momento e poder compartilhá-lo imediatamente! Poucas pessoas passavam o dia inteiro com suas máquinas digitais no bolso, mas o celular sempre estava lá.

O problema foi melhor resolvido quando a câmera digital ganhou qualidade estando integrada aos telefones. Antes, quando era necessário ter um rolo de filme, isso não era viável. A evolução tecnológica foi sim fundamental, mas não suficiente para de fato resolver um grande problema de milhões de pessoas.

E não foi apenas o aparelho celular que resolveu problemas aproveitando o novo cenário tecnológico. Um empreendedor também se fez valer dessa mudança resolvendo um problema bem mais específico, mas que depois se mostrou comum a muitas outras pessoas também.

Em 2002, Nick Woodman percebeu que diversos segmentos de clientes buscavam um tipo de solução bastante específica no mercado de fotografia, mas que ainda não havia uma solução realmente adequada. E ele criou a GoPro. O problema que ele identificou que precisava ser resolvido? Capturar imagens de ação. Simples e extremamente específico.

E o que aparentemente poderia ser confundido com algo restrito apenas a praticantes de esportes radicais, se mostrou um mercado gigante: em 2011, a GoPro atingiu faturamento de U$ 250 milhões. Hoje, o uso da GoPro se estende desde cientistas que enviam astronautas ao espaço, pesquisadores nas profundezas dos oceanos, equipes de resgate em locais remotos (foi usada no resgate dos mineiros chilenos presos na mina em 2010), médicos-cirurgiões, empresas de petróleo, militares… até os mais diversos programas de reality-shows da TV e simples turistas se divertindo em montanhas-russas.

Aos olhos da maioria das pessoas, talvez apenas os praticantes de bungee jump e paraquedismo tivessem esse problema de forma tão explícita. O próprio empreendedor diz ter iniciado o projeto após uma de suas viagens para surfar, decepcionado de não conseguir registrar os momentos radicais com a devida qualidade. Mas ao se projetar algo tão adequado para resolver o problema desse segmento de clientes, descobriu-se um encaixe perfeito para inúmeros outros.

Conforme já debatido, empreendedores em busca de negócios inovadores devem agir como investigadores, como médicos que procuram pelas dores de seus pacientes. Trazendo isso para o mundo de negócios:

  • inovações tecnológicas podem mudar completamente alguns mercados, mas os produtos e serviços que realmente fazem a diferença para as pessoas são aqueles que endereçam adequadamente a resolução de um problema significante;

  • quando se encontra a combinação de um problema muito específico – que ainda não possuiu uma solução exatamente adequada – e que muitas pessoas precisam tê-lo solucionado, é um indício de que realmente pode existir uma grande oportunidade;

  • resolver um problema que você, sua família, grupo de amigos ou colegas de trabalho possuem é um começo – não uma garantia de que existirá um grande mercado para a solução criada. Mas se não resolve o problema de ninguém, não ter mercado passa a ser uma certeza!

A maioria dos problemas não estão tão aparentes quanto o resolvido pelos celulares com câmeras: registrar momentos únicos da sua vida de forma casual e poder compartilhá-los imediatamente. Muitos outros já são resolvidos de forma parcial ou adaptada pelas pessoas, tornando-se mais difíceis de serem percebidos. Daí vem a extrema necessidade do empreendedor de desenvolver e aguçar seu faro para desvendar problemas.

Post publicado no blog da Endeavor.