O título deste artigo também poderia ser: “Por que aceleradoras não concorrem com incubadoras?” ou “Por que as aceleradoras funcionam melhor com startups que já estão além da ideia?”.

A diferença entre esses dois termos pode ser entendida pelos próprios nomes. Para acelerar o ideal é que já haja alguma velocidade. Nas incubadoras, o objetivo é justamente tirar da inércia e fazer a roda começar a girar, mesmo que inicialmente em baixa velocidade, o que é absolutamente natural.

Um dos maiores – senão o maior – desafio de qualquer startup é conseguir encontrar um modelo de negócios que a permite ter ganho de escala. Mas isso não implica em dizer que tirar a ideia da cabeça e colocar pra rodar seja algo simples. Definitivamente não é. Mas é intuitivo estimar que a quantidade de empresas que conseguiram sair da inércia e atingir um certo resultado inicial bom (digamos, pra realidade Brasil, entre R$500 mil a R$1milhão/ano) seja consideravelmente maior do que as conseguiram passar desse estágio para o de R$5 milhões/ano em diante.

A atuação das incubadoras é essencial para viabilizar que empreendedores possam, durante seus primeiros 2 anos de vida, encontrar uma marcha para avançar em uma boa velocidade. É importante notar que grande parte do trabalho nesse primeiro estágio de vida tem muita relação com a startup em si – mais até do que com o modelo de negócios propriamente.

Isso envolve, primeiramente, garantir a convicção dos próprios empreendedores de que irão seguir numa jornada de muito esforço e concessões por um tempo bem considerável (leia-se “não menos que 5 anos”!). É muito comum uma startup começar à “meia-marcha”, ou seja, parte dos empreendedores ainda não estão totalmente dedicados ao negócio, seja por falta de condições financeiras ou mesmo por falta de certeza do caminho que estão tomando.

Soma-se a isso o também dificílimo e árduo processo de se testar e encontrar um devido problema para ser solucionado – a principal parte da busca pelo modelo de negócios escalável (e já abordado em detalhes em posts anteriores).

Quando esses dois grandes desafios acima – que possuem perspectivas bem distintas (interna x externa) são superados – o resultado costuma ser traduzido naquele bom faturamento preliminar de R$ 500 mil a R$1milhão anuais. E as empresas que saem das incubadoras neste estágio podem ser consideradas como de sucesso (parcial, é claro) – e supondo aqui que elas chegaram apenas com “uma ideia na cabeça” ou no papel para serem incubadas.

Mas atingir esse estágio ou essa velocidade de crescimento não implica em ter encontrado um modelo de negócios “escalável”. Esse é outro passo bem distinto e precisa de outro tipo de suporte. É aí que entram as aceleradoras de startups (falando apenas do cenário Brasil, visto que a realidade americana é bem diferente).

O trabalho que realizamos na 21212 é o de estressar ao máximo o negócio já existente pra que ele encontre de fato uma forma de “escalar” – o que basicamente pode ser traduzido como “crescer nas receitas numa proporção exponencialmente maior que nos gastos”.

Uma analogia interessante é a seguinte: imagine que você e alguns amigos decidiram subir o Everest. Não é algo tão simples como comprar um pacote de 7 noites all inclusive em uma operadora de turismo pra passar o carnaval na Bahia. Primeiro você precisa passar por um intenso e longo treinamento e se deslocar de onde está para o Nepal (fica longe!). Chegando lá, você precisa conseguir subir até o campo base do Everest. Ele se encontra a mais de 5 mil metros de altura! Todo o treinamento será necessário e seu corpo precisa provar que resiste a esta altitude. Depois de alguns bons dias se adaptando a estas condições extremas, pode ser que você decida e resolva escalar os mais de 3 mil metros restantes – esta parte em uma íngreme e perigosa escalada – o que na prática só é feito por alpinistas muito bem treinados.

Você e amigos são os sócios da startup – não vai ser fácil tomar essa decisão de escalar o Everest e ainda convencer os outros! Igualzinho a uma startup. A incubadora vai fazer toda a parte do treinamento, preparação e te levar até o Nepal. A aceleradora vai te ajudar a chegar primeiramente aos 5 mil metros do campo base. Pode parecer simples, mas chegar ao campo base do Everest leva entre 15 a 20 dias de intensa caminhada! E depois, com a também fundamental participação dos investidores de risco, a aceleradora vai te auxiliar na íngreme escalada ao “topo”.

Escalar o Everest é uma atividade de alto risco. Muitos infelizmente morreram tentando. Mas diversos outros já chegaram. Desenvolver uma startup é bem parecido. Entendendo muito bem o que é preciso e quem pode te ajudar em cada momento, as chances (sem qualquer garantia) podem ser consideravelmente aumentadas.