Na coluna semanal “Confissões de um Acelerador”, Frederico Lacerda, co-fundador da 21212 e responsável pela seleção e operação do programa de aceleração da 21212, compartilha lições aprendidas durante o seu dia a dia junto às startups.

A morte das startups

Todo empreendedor nasce sabendo que a sua startup está no mundo apenas por tempo determinado. A própria definição de startup de Steve Blank (“uma startup é uma organização temporária desenhada para buscar modelos de negócios replicáveis e escaláveis”) decreta o seu fim precoce ao caracteriza-la como “uma organização temporária”. Todas as startups devem acabar rápido: ou por darem certo e se transformarem em uma empresa em crescimento; ou por darem errado e deixarem de existir, de forma a permitir que os empreendedores possam alterar o foco da sua atenção a outras oportunidades.

É claro que a maior parte dos empreendedores é otimista e acredita fortemente no sucesso de suas startups. Caso não fosse assim, eles não teriam nem começado. Mas boa parte deles não quer nem pensar no “não dar certo” e tem medo da possibilidade do seu fim estar no outro extremo: na morte de suas startups.

Empreendedores que já estão há mais tempo no “ramo” sabem, entretanto, que a morte é uma possibilidade próxima e constante em boa parte do tempo. É muito difícil que durante a jornada de criação de um negócio, você não se veja a frente da possibilidade de fechar as portas algumas vezes. Portanto, o grande desafio do empreendedor é saber lidar com essas situações, buscando a saída para que seus negócios dêem certo.

Isso não poderia acontecer de forma diferente dentro da 21212. Ao longo dos últimos 4 anos, aceleramos startups que tinham claramente definido a data-limite das suas operações (o chamado “runway”). Muitas vezes fomos obrigados a mostrar a fundadores a dura realidade de que seus negócios iriam morrer mais cedo do que eles pensavam (ou do que gostariam de enxergar). E este é um exercício de consciência, no qual você não deve ter medo de saber que o seu dinheiro vai acabar, mas deve ter noção da realidade para poder adaptar e priorizar as suas ações a tempo de encontrar um caminho que dê certo, antes que seus recursos se esgotem (conforme falo no curso de Lean Canvas, baseado em Ash Maurya).

Um dos nossos empreendedores escreveu um texto justamente sobre esse assunto, compartilhado abaixo na íntegra. Este é o seu exercício de consciência e a certeza de que ele está priorizando agora as atividades e ações que precisam ser realizadas.

-> Depoimento por Bruno Ducatti, CEO e co-fundador da VetSmart

-> Disclaimer: a VetSmart é uma startup promissora em fase de crescimento acelerado, com geração de receita crescente e uma base de usuários fiel. Hoje é a maior empresa digital na indústria de veterinária.

A aceitação da morte como ferramenta de motivação do empreendedor

Steve Jobs uma vez sintetizou: ‘Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar – caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.’

Para a manutenção da sintonia psicológica positiva nada pode ser mais eficaz do que contemplar a morte e extrair do seu desligamento imperativo absoluto o encorajamento que um empreendedor necessita.

Inerente à maioria das nossas ações, está a necessidade de perpetuação da espécie e garantia de sobrevivência.

As batalhas pela vida de nossos ancestrais tinham cenários diferentes. A caçada instintiva e capital do mundo moderno é o trabalho bem sucedido. O que te dará acesso aos recursos básicos para seguir vivendo e existindo é o seu salário, arrecadação ou pro-labore.

Quando você empreende, você desvia de um padrão, você quebra paradigmas, você desafia e consequentemente desperta pavor pois rompeu um equilíbrio instaurado na maioria da população avessa a radicalizações. Seja ele mais ou menos intenso, o medo está no dia a dia do empreendedor.

Como seres vivos somos binários para maiorias dos medos se ausentarmos reflexões: Trabalhar e empreender é batalhar pela vida, não trabalhar e fracassar é ameaça a vida e aproximação da morte.

Dissecando o fracasso encontramos a possível vergonha social e a rotulação negativa, auto-flagelação por ter sido subversivo e, principalmente, o desperdício de tempo (horas de vida) e extinção de novas possibilidades de sucesso.

Porém, ao manter em mente a finitude e efemeridade da vida, tanto da nossa própria quanto de todos os públicos a nossa volta, e também ao enxergar nossas atitudes como experimentos com variáveis controladas com um destino já selado, como disse Steve Jobs, qualquer ameaça é desarticulada.

Parece banal, mas um exercício diário com a reflexão sobre o fim natural de nossa existência e crenças renova nossas forças, intenções e ideias.

Se não teme a morte, você não teme nada, muito menos os desafios de empreender.